17/02/11

Sinais dos tempos

As relações não são como antes, faço um flashback e penso se algum dia passei ou levei uma relação com alguém, como as que vejo por aí, e que também já vivi.
Na adolescência quando se gostava de alguém, lá se pedia a cachopa em namoro, e ela dizia sim ou não, mesmo conhecendo-nos mal, mas dizia, e se fosse uma coleguinha, ficava-se ressabiado, deixava-se de falar com ela uns tempos e a coisa voltava ao normal, ou então nem se dava importância e saltava-se para a etapa seguinte.
Na universidade começavam a aparecer as situações mais complexas, one night stands, paixões idiotas, relações que se arrastavam anos, sem que uma das partes nunca deixasse de mostrar claramente que aquilo era "apenas sexo", mas para todos os efeitos, tudo era claro e obejctivo, ainda. Amigas eram apenas amigas, e quando havia envolvimento emocional ficava tudo rapidamente esclarecido, ou então avançava-se para a relação a sério.
Com o trabalho aparecem as prioridades, a vida profissional, subentenda-se, e aí embora o espírito do amor se mantenha, a coisa complica-se sobremaneira, um quer ir para Londres, outro para Pequim, um quer entrar no quadro, o outro quer abrir o próprio negócio, tudo legítimo, sem dúvida, mas pela mesma ordem de ideias de sempre, não há cá tangas, tenta-se, arrisca-se, não dá porque fui despedido, não dá porque quero ganhar mais, não dá porque quero comprar um carro, sei lá... mas aquele "é ou não é", não deixa tempo a dúvidas.
O problema vem depois, quando deixamos de viver nas nuvens e sabemos que não vamos viver eternamente, quando deixamos de nos preocupar com o desemprego ou com as despesas. Aí sobra tempo para a estupidez, ou antes, a estupidificação, passamos a aceitar relações porque sim, e como não temos mais nada com que realmente ocupar a cabeça, então andamos sempre atrás da próxima emoção, agarramos a primeira que aparece e esticamos, vivemos, esgotamos, vamos ao limite do "segundo não desperdiçado" a pensar nos "porquês", nos "ses", e por isso acomodamo-nos. Seja num casamento, num namoro, numa amizade colorida, deixamo-nos estar, porque isto de andar a catar dá trabalho, enfrentar vazios não é como antes. Temos que trabalhar, a seita está maioritariamente casada e com filhos, os restantes estão dispersos, ou envolvidos nas tais relaçãoes que nem eles sabem o que são, ou então estão no Dubai, ou desempregados e nem de casa saem.
Esta libertação, esta treta do "agora quem não está bem muda-se", que antes era um tabu social, também tem riscos, mas se por um lado arriscar é viver, por outro lado assusta.
O que vai valendo é saber que no fim, pelo menos nos últimos segundos estaremos sós, e aí teremos que responder perante Deus, ou perante Nós, à pergunta: Tiveste uma vida boa?

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