Supondo que passamos anos a guiar um carro, de que gostamos mesmo muito, que nos dá um gozo especial pela condução, pela velocidade, pelo aspecto. Supondo que esse carro tem alguns defeitos, como a falta de ar condionado, o rádio falha, a mala é pequena, os vidros elétricos não funcionam direito a suspensão é um bocado dura.
Com os anos, os defeitos agravam-se e as qualidades diminuem, o motor não tem a mesma pujança, o volante não tem a firmeza de antes, o visual fica ultrapassado.
A relação entre o gozo e a desilusão altera-se. Começamos a ver apenas os defeitos, porque o automóvel não se regenera por si, porque achamos que não vale a pena investir nele, o custo é demasiado alto para as melhorias que se conseguem. E pior, o modelo não será propriamente um "clássico" daqui a uns anos.
Solução, despacha-se o veículo, só um sentimentalista mantém o espaço ocupado na garagem. Que satisfação se pode sentir continuando a ter um automóvel no espólio e do qual só podemos ter o que era mau? Livramo-nos dele, e guardamos a boa imagem com que ficamos das qualidades que o tornaram nessa altura o nosso carro de sonho, porque era nosso.
Eu quero um Mustang de 68, um Jaguar Type E de 75, uma 4L, um 2CV ou então pode ser um SLK recente, um 911, um Cincueccento, um qualquer automóvel intemporal, estou cansado de andar a trocar, farto de veículos de série, de restylings, de versões 1, 2, 3... do mesmo modelo.
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