18/03/11

Ditados populares

Realmente, ele há episódios que nos ficam na memória durante anos sem que nos pareça haver qualquer lógica para isso.
Das várias semanas académicas que passei nos tempos de estudante, há um dia de que não me esqueço particularmente, aliás, uma hora ou duas dessa noite. O lírico é que durante esse tempo estava de tal modo ébrio que o mais estranho mesmo é recordar-me tão bem passados mais de 10 anos.
Tinha acabado a minha resistência, estava tão mal que decidi sair do recinto da festa antes que caisse redondo, não tinha carro, não tinha boleia, e como a cidade ficava longe esperei pelo autocarro que fazia a viagem de volta. Lembro-me de me sentar no contra-lancil do passeio e passados segundos já estar deitado no canteiro. O autocarro chegou e lá entrei, fiquei logo parado a seguir aos degraus, encostei-me ao banco rebatido do co-piloto, e via passar mesmo à minha frente os restantes passageiros. De repente, todo o alcool que tinha no corpo fez das suas, abri os braços, interrompi o fluxo de gente, e irrompi num noutro tipo de fluxo directamente para o chão, vomitei, lembro-me de ouvir o motorista a protestar pela habilidade, depois sentou-se, eu lá me recompuz, entraram os restantes festivaleiros, baixei o assento, sentei-me e o motorista lá arrancou.
Durante a viagem meti conversa com o homem, falava de política e ele lá se embrenhava na discussão esquecendo-se da encomenda que viajava mesmo ao seu lado e à frente dos meus pés. Passados alguns minutos, num relance de lucidez, disse: "você já viu o servicinho que fez aí?", ao que eu retorqui com uma espécie de sabedoria popular: "oh amigo, o que queria? quem se deita com crianças, acorda borrado!". O homem não disse uma única palavra depois disto, acabou-se o paleio, eu também não disse mais nada, despedi-me com um bom dia quando me deixou na paragem e lá fui dormir.
Pergunto-me a mim mesmo o porquê de me recordar desta triste história, mas a vida tem destas coisas fantásticas, tudo acaba por fazer sentido mais tarde, e agora percebo perfeitamente o porquê do silêncio dele, para quê explicar, para quê perceber? Limpa-se a merda, e continua-se a viagem.

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