Nada é tão mau nem tão bom como pensamos. Sempre que pensamos numa situação ou num acontecimento recente, temos sempre uma visão distorcida e fazemos uma avaliação tendenciosa. Não vale a pena refutarem, não vale a pena protestarem porque acham ser muito justos, muito maduros, racionais, isentos, frios, etc. Aceitem isso como verdade, porque se há coisa que acontece a todos, e isso ninguém pode negar, é que mais tarde, olhamos para tudo de forma diferente, a distância do tempo mostra-nos isso.
O que hoje nos possa parecer hediondo, amanhã será menos, o que hoje é fabuloso amanhã será menos. A intensidade com que vivemos o que sentimos diminui com a sua ausência, ou vão dizer-me que agora olham para o vosso carro e sentem a emoção que sentiram no primeiro dia? Nem ligam, nem se lembram sequer desse dia, possivelmente lembram-se agora que falei nele. O mesmo se passa para praticamente tudo. O dia que entraram na universidade, o dia que saíram de lá, o primeiro emprego, o primeiro desemprego, o primeiro beijo, a primeira desilusão amorosa...
Quantas vezes não damos o espaço a esse tempo para nos ajudar a julgar melhor? a avaliar melhor? Quantas vezes nos desgatamos e aos outros, perdemos tempo, porque não avaliamos de forma correcta nem deixamos que o façam?
Um exemplo clássico são os "Tribunais das Relações", não confundir com o famoso Tribunal da Relação.
As pessoas têm uma tendência fantástica em passar por advogados, juízes ou procuradores. Não sei se será sintoma de tanta série televisiva que se via há uns anos. Quando as coisas não correm bem, constituem um tribunal em que só estão presentes o Tu e o Eu, e no qual é julgado o Nós. Coitado, um réu que nem sequer tem voz, um réu que está amordaçado e que já é culpado à partida, pois a sua existência deve-se apenas à ligação entre as duas pessoas, que se esvai quando é levado à barra desta justiça, e acaba com o final da relação.
Não há necessidade do lavar de roupa suja, da atribuição das culpas, da responsabilidade dos erros, a discussão idiota do, "eu tenho mais razão do que tu". Os nossos juízes somos nós próprios, a consciência é só nossa, de que raio adianta estar a discutir com outra pessoa sobre isso?
Normalmente estes tribunais só servem para uma coisa. Adiar a nossa própria reflexão sobre o que se passou, desgastar, cansar, magoar, ser magoado. Não vale a pena levar às redes da lei, um réu que já está condenado, não vale a pena entupir as nossas cabeças, não vale a pena pagar as custas. Sobretudo, não vale a pena estragar as coisas boas para ganhar uma causa destas. Devemos sempre sair no melhor da festa.
Como dizia o meu pai desplicentemente, quando não cedia prioridade num cruzamento a outro condutor que buzinava enfurecido... "fica lá com a razão" e continuava indiferente.
2 comentários:
Lindo...
Apenas me faz sentido que seria justo assumir responsabilidades...
Apenas isso, "assinar por baixo" como diria um outro pai. Que te parece?
Nestas coisas só podemos assumir as responsabilidades que reconhecemos graças à nossa experiência e compreensão. Umas vezes, melhor que o outro, outras vezes... pior. Quando ambas pessoas são capazes de assumir as responsabilidades perante o outro de igual modo, então a relação não termina, melhora!
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