12/02/12

Plantas

Às vezes esquecemos quem somos, o que queremos para nós, para a nossa vida, e deixamos que uma espécie de receio disfarçado de dormência tome conte de nós, como um caracol que leva umas pancadinhas nos cornos e se vai retraindo até se enfiar por completo na carapaça. É normal, o percurso lembra-nos muitas vezes as pancadas que levamos, as feridas que custaram tanto a sarar, os avisos que tivemos e os que não tivemos e só vimos depois. É preciso aprender com os erros passados, identifica-los, corrigi-los.
Julgo que isto terá mais a ver com a personalidade de cada um, a forma como supera as adversidades e avança, a forma como encara as novas situações e tenta não repetir comportamentos passados. É fácil dizê-lo, é difícil fazê-lo, é!
Quantas vezes chegamos ao fim de um percurso e pensamos: "eu sabia, isto ia acabar assim mais dia menos dia!"?
Pior. Quantas vezes começamos a pensa-lo antes sequer de ter algum indício que acontecesse? Acabamos sempre por encontrar aquilo que procuramos, e sem querer, pensamos que estamos a procurar o oposto, como que a enganar-nos a nós próprios.
Eu quero ser feliz, digo eu, e diz toda a gente, mas será que merecemos isso? Será que lutamos por essa felicidade sem medos, sem temores
Dizem os orientais que só se alcançam grandes coisas passando por grandes sofrimentos, acredito nisso, a felicidade não é qualquer coisa que cai do céu e fica perene e imutável na nossa vida. Não! Não é como a história do amor ser uma plantinha que é preciso regar todos os dias. Na felicidade pessoal de cada um não cabe apenas uma planta, cabem muitas, as árvores, robustas como os nossos pais, que aguentam sólidas os anos e estão sempre lá para nos proteger com a sua sombra, que de pouco alimento precisam, mas que no entanto precisam da luz dos nossos afectos para se manterem firmes, os nossos amigos, como os arbustos que crescem em qualquer lado e que temos apenas que fixar para que não os leve o vento, dando-lhes também do nosso sol, e finalmente, nós, como as heras, crescendo por onde podemos, dispersando-nos se assim tentar-mos, descobrindo novos sítios onde chegar, enfim, um mundo de verde que cabe a cada um expandir, uns menos ambiciosos que se contentam com chegar ao peitoril de uma janela, outros ao beiral do telhado.
Eu quero envolver a casa de mim, mas sei que não o vou conseguir com a ajuda de uma flor, preciso de outra hera como eu, forte, corajosa, inteligente (modéstia à parte), tem de saber que por vezes entrelaçando os ramos se podem dar nós, se podem impedir avanços, se pode deixar uma casa por cobrir. Assumo o meu lado de lenhador e que por vezes com a pressa de chegar aplico o machado ao nó e recomeço de novo, mas o mais provável é que enquanto não tiver paciência e com calma desapertar esses nós, o raio da casa nunca mais fique forrada do verde dos meus olhos, e dos teus também minha querida.

1 comentário:

Daniela Teixeira disse...

TRILHOS

Tal como uma hera se molda ao substrato, assim se moldam os sentimentos e as vivências do ser humano. Tantas vezes somos a flor, a árvore, a hera ou o capim numa natureza múltipla de cores, formas e desejos de alguém. Se o amor é um eco evasivo e difícil de entoar, desejo evoca-lo, seguindo o som dos teus passos, e atravessando catedrais, num qualquer outro extremo, encontra-lo... a ti.