25/02/11

Pacote de bolachas

Tenho duas irmãs, duas grandes mulheres, diga-se. Além de nos dar-mos muito bem, somos irmãos, pelo que nem vale a pena dizer mais nada quanto à nossa relação.
Isto não foi sempre assim, as nossas diferenças de idades são pequenas, pouco mais de 1 ano entre cada, o que foi uma vantagem quando crianças, sempre havia coisas para fazer juntos, embora na parte das bonecas eu preferisse ir para o meu quarto com os legos.
A fase negra foi a do "armário", e como as mulheres entram mais cedo, os meus mais de 2 anos de diferença para a caçula deixaram de se notar. Resultado, guerra!
Foram inúmeras as batalhas sem sentido em que no fim todos perdíamos. Uma delas, e que acho particularmente piada, mesmo porque ainda hoje consiga ver coisas semelhantes entre gente que já deveria ser suficientemente madura, era a do pacote de bolachas.
Durante meses, com a gulodice, lá ia à despensa para comer umas bolachitas e deparava-me com 3 ou 4 pacotes, surpresa das surpresas, todos eles tinham apenas uma bolacha e como quando a fome aperta, percebia a estratégia, mas lá ia a bolachita. Depois era um ver se te havias com a minha mãe a ralhar por conseguir-mos aviar as doçuras num pestanejar de olhos, e claro, as espertas das minhas irmãs diziam: "Foi  o Bruno que acabou os pacotes todos!!"... nem vale a pena falar na vontade que tinha de as matar, mas que remédio, lá ouvia e por muito que tentasse explicar era comigo que a minha mãe mais embirrava.
Até que um dia caiu sobre nós a justiça salomónica, acabaram as guerras das bolachas, pura e simplesmente deixaram de fazer parte da despensa, a minha mãe não esteve de modas e levamos os 3 pela mesma medida.
Agora que penso, eu nem estranhei muito, afinal o que tinha que ouvir por causa de uma mísera amostra até compensava a sua falta, já elas, obviamente, devem ter sofrido bem mais com a ansiedade que a falta de açúcar provoca, tamanha era a gula.
Hoje há pessoas que definitivamente não passaram por este tipo de situações ou que não aprenderam ainda, que no fim, por muito que tenham a barriga cheia e por muita fome que tenham feito passar, quem mais perde acaba por ser quem mais comia, quem sempre andou esfomeado não vai notar a diferença e ainda por cima ainda tem a vantagem de não aturar ninguém a moer-lhe o juízo, nem a sentir-se injustiçado.

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