27/03/11

Conceitos

Tenho-me deparado ultimamente com pessoas que fazem coisas que nunca fiz na minha vida, que é tentarem descrever, racionalizar, destrinçar, teorizar sobre os sentimentos humanos. Eu sempre me limitei a vivê-los sem lhes dar um nome ou por um carimbo. Sente-se e pronto, como a vida, vive-se, não se experimenta, não se mede não se prevê.
Mas de tudo, o mais estranho mesmo é as pessoas misturarem duas coisas muito diferentes, e pior, negarem uma em prol da outra ou vice-versa quando não conseguem distingui-las. Por isso, e como gesto altruísta, deixo um texto que traduzi do inglês há uns tempos atrás, e do qual não me lembro da fonte, mas que partilho para bem da humanidade, ou melhor, dos confusos.

"Amizade Vs Amor

Amizade é um passeio pelo parque no meio da multidão, com alguém em quem confias.
Amor é quando sentes como se fossem apenas as duas pessoas a passear no parque.

Amizade é quando te olham nos olhos e sentes que se preocupam contigo.
Amor é quando olham nos teus olhos e te confortam o coração.

Amizade é sentir-se perto mesmo quando se está longe. 
Amor é quando estão afastados, e ainda sentes a outra mão no teu coração.

Amizade é quando esperas que a vida lhe traga o melhor. 
Amor é quando tu lhe trazes o melhor.

Amizade preenche-te a mente.
Amor preenche-te o coração.

Amizade é saber que vais tentar sempre estar lá quando precisarem de ti.
Amor é quando fazes e abdicas de tudo para estar ao seu lado.

Amizade é um sorriso que te aquece no inverno. 
Amor é uma carícia que te aquece e envia esse calor até ao teu coração.

Amor é um sorriso bonito a que nada se compara:
Uma risada ternurenta, que te abre o coração, 
Um simples toque que afasta todos os teus medos e receios, 
Um aroma que te recorda a tranquilidade de um céu azul. 
Uma voz que te lembra a inocência da juventude.

Amizade é compreensão.
Amor é carinho."

24/03/11

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Saudades de alguém ausente
devem ser tristes,por certo
mas são mais tristes se a gente
as tem de alguém que está perto...


(não é minha, mas é muiiiiiiiiito boa!)

23/03/11

Cars

Supondo que passamos anos a guiar um carro, de que gostamos mesmo muito, que nos dá um gozo especial pela condução, pela velocidade, pelo aspecto. Supondo que esse carro tem alguns defeitos, como a falta de ar condionado, o rádio falha, a mala é pequena, os vidros elétricos não funcionam direito a suspensão é um bocado dura.
Com os anos, os defeitos agravam-se e as qualidades diminuem, o motor não tem a mesma pujança, o volante não tem a firmeza de antes, o visual fica ultrapassado.
A relação entre o gozo e a desilusão altera-se. Começamos a ver apenas os defeitos, porque o automóvel não se regenera por si, porque achamos que não vale a pena investir nele, o custo é demasiado alto para as melhorias que se conseguem. E pior, o modelo não será propriamente um "clássico" daqui a uns anos.
Solução, despacha-se o veículo, só um sentimentalista mantém o espaço ocupado na garagem. Que satisfação se pode sentir continuando a ter um automóvel no espólio e do qual só podemos ter o que era mau? Livramo-nos dele, e guardamos a boa imagem com que ficamos das qualidades que o tornaram nessa altura o nosso carro de sonho, porque era nosso.
Eu quero um Mustang de 68, um Jaguar Type E de 75, uma 4L, um 2CV ou então pode ser um SLK recente, um 911, um Cincueccento, um qualquer automóvel intemporal, estou cansado de andar a trocar, farto de veículos de série, de restylings, de versões 1, 2, 3... do mesmo modelo.

18/03/11

Ditados populares

Realmente, ele há episódios que nos ficam na memória durante anos sem que nos pareça haver qualquer lógica para isso.
Das várias semanas académicas que passei nos tempos de estudante, há um dia de que não me esqueço particularmente, aliás, uma hora ou duas dessa noite. O lírico é que durante esse tempo estava de tal modo ébrio que o mais estranho mesmo é recordar-me tão bem passados mais de 10 anos.
Tinha acabado a minha resistência, estava tão mal que decidi sair do recinto da festa antes que caisse redondo, não tinha carro, não tinha boleia, e como a cidade ficava longe esperei pelo autocarro que fazia a viagem de volta. Lembro-me de me sentar no contra-lancil do passeio e passados segundos já estar deitado no canteiro. O autocarro chegou e lá entrei, fiquei logo parado a seguir aos degraus, encostei-me ao banco rebatido do co-piloto, e via passar mesmo à minha frente os restantes passageiros. De repente, todo o alcool que tinha no corpo fez das suas, abri os braços, interrompi o fluxo de gente, e irrompi num noutro tipo de fluxo directamente para o chão, vomitei, lembro-me de ouvir o motorista a protestar pela habilidade, depois sentou-se, eu lá me recompuz, entraram os restantes festivaleiros, baixei o assento, sentei-me e o motorista lá arrancou.
Durante a viagem meti conversa com o homem, falava de política e ele lá se embrenhava na discussão esquecendo-se da encomenda que viajava mesmo ao seu lado e à frente dos meus pés. Passados alguns minutos, num relance de lucidez, disse: "você já viu o servicinho que fez aí?", ao que eu retorqui com uma espécie de sabedoria popular: "oh amigo, o que queria? quem se deita com crianças, acorda borrado!". O homem não disse uma única palavra depois disto, acabou-se o paleio, eu também não disse mais nada, despedi-me com um bom dia quando me deixou na paragem e lá fui dormir.
Pergunto-me a mim mesmo o porquê de me recordar desta triste história, mas a vida tem destas coisas fantásticas, tudo acaba por fazer sentido mais tarde, e agora percebo perfeitamente o porquê do silêncio dele, para quê explicar, para quê perceber? Limpa-se a merda, e continua-se a viagem.

04/03/11

Lições

Todos temos pessoas importantes que fizeram ou ainda fazem parte do nosso mundo. Umas vão, outras voltam, outras ainda cá estão. Cada uma dessas pessoas influencia de forma e intensidade diferente o nosso pequeno cosmos, umas com marcas indeléveis, algumas mais profundamente.
Duas dessas personagens que se cruzaram no meu caminho provocaram uma mudança radical em mim, obrigaram-me a olhar para mim de maneira diferente, a deitar por terra conceitos e postulados de muitos anos, e rever o modo como lidava com algumas situações e com os outros.
A primeira, atravessou-se literalmente à minha frente, e numa atitude passíva e contemplativa, deixou-me errar, errar e errar, até que finalmente não deixou mais.
Aprendi. Nunca deixes de arriscar, nunca tenhas medo de uma resposta, nunca tenhas medo de um "Não". Mesmo que por um instinto de defesa inconsciente faças tudo para o ouvir, arrisca! O pior que te pode acontecer é acabares com essa dúvida que atormenta, e depois, ainda que a resposta seja a que tanto procuraste pelo medo de a encontrar, sofre-se o que já se sofria por antecipação, e afinal percebes que não era assim tão doloroso como pensavas.
A segunda, procurou-me, aproximou-se, e eu deixei, topei-a e dexei-a entrar, dia após dia, semana após semana, chegou onde queria. Depois deparou-se com um calvário, um egoísta, um puto que se pensava homem e que ela colocou num pedestal agravando mais ainda a minha imaturidade. Mais uma vez, errei, errei, e voltei a errar. Errei tanto que só a extenuei, a exauri, no dia que a crueldade foi demasiada. Recompôs-se, foi grande, continuou a ser, e eu na minha estupidez, quando me confrontei com a realidade, quando percebi que ela já não estava lá, voltei a reagir com a falta de juízo caracterítica de quem não "vê".
Aprendi. Tudo o que fazemos, volta para nós, what goes around comes around, não tenho dúvidas, eu já aprendi, todos aprendemos um dia.

03/03/11

Perder tempo

Nada é tão mau nem tão bom como pensamos. Sempre que pensamos numa situação  ou num acontecimento recente, temos sempre uma visão distorcida e fazemos uma avaliação tendenciosa. Não vale a pena refutarem, não vale a pena protestarem porque acham ser muito justos, muito maduros, racionais, isentos, frios, etc. Aceitem isso como verdade, porque se há coisa que acontece a todos, e isso ninguém pode negar, é que mais tarde, olhamos para tudo de forma diferente, a distância do tempo mostra-nos isso.
O que hoje nos possa parecer hediondo, amanhã será menos, o que hoje é fabuloso amanhã será menos. A intensidade com que vivemos o que sentimos diminui com a sua ausência, ou vão dizer-me que agora olham para o vosso carro e sentem a emoção que sentiram no primeiro dia? Nem ligam, nem se lembram sequer desse dia, possivelmente lembram-se agora que falei nele. O mesmo se passa para praticamente tudo. O dia que entraram na universidade, o dia que saíram de lá, o primeiro emprego, o primeiro desemprego, o primeiro beijo, a primeira desilusão amorosa...
Quantas vezes não damos o espaço a esse tempo para nos ajudar a julgar melhor? a avaliar melhor? Quantas vezes nos desgatamos e aos outros, perdemos tempo, porque não avaliamos de forma correcta nem deixamos que o façam?
Um exemplo clássico são os "Tribunais das Relações", não confundir com o famoso Tribunal da Relação.
As pessoas têm uma tendência fantástica em passar por advogados, juízes ou procuradores. Não sei se será sintoma de tanta série televisiva que se via há uns anos. Quando as coisas não correm bem, constituem um tribunal em que só estão presentes o Tu e o Eu, e no qual é julgado o Nós. Coitado, um réu que nem sequer tem voz, um réu que está amordaçado e que já é culpado à partida, pois a sua existência deve-se apenas à ligação entre as duas pessoas, que se esvai quando é levado à barra desta justiça, e acaba com o final da relação.
Não há necessidade do lavar de roupa suja, da atribuição das culpas, da responsabilidade dos erros, a discussão idiota do, "eu tenho mais razão do que tu". Os nossos juízes somos nós próprios, a consciência é só nossa, de que raio adianta estar a discutir com outra pessoa sobre isso?
Normalmente estes tribunais só servem para uma coisa. Adiar a nossa própria reflexão sobre o que se passou, desgastar, cansar, magoar, ser magoado. Não vale a pena levar às redes da lei, um réu que já está condenado, não vale a pena entupir as nossas cabeças, não vale a pena pagar as custas. Sobretudo, não vale a pena estragar as coisas boas para ganhar uma causa destas. Devemos sempre sair no melhor da festa.
Como dizia o meu pai desplicentemente, quando não cedia prioridade num cruzamento a outro condutor que buzinava enfurecido... "fica lá com a razão" e continuava indiferente.


02/03/11

Filmes

"I see You!"
Desde que vi o Avatar nunca mais me esqueci desta. Foi como se de repente a noção da existência do universo se tivesse resumido numa frase, uma espécie de E=mC2, mas num pensamento contínuo e linear.
Se tivesse visto o filme noutra fase da vida, teria interpretado isto de uma forma bem diferente. Se fosse uma criança pensaria... "claro que vês, ele está mesmo à tua frente, daaaaaaaa", se fosse adolescente diria... "só o vê a ele, ele é o mundo, é tudo...".  Agora e desde que me sinto gente graúda a lógica é outra.
Normalmente com a idade perdemos a visão, eu comecei cedo, diga-se, com 7 anos usei os meus primeiros óculos e a partir daí foi sempre a piorar, com jeito ainda acabo de bengala a tactear passeios, mas por outro lado desenvolvi uma forma de olhar que desconhecia, uma em que não preciso dos olhos, só. Preciso de mais.
Preciso de todos os sentidos  para poder "ver" desta forma, é necessário, mas mesmo assim não é suficiente. Para isso é preciso sair de dentro de nós, não basta ouvir, ver, tocar, é preciso sentir, é preciso entrar no mundo que temos à frente, percebê-lo, compreendê-lo e mais uma vez, senti-lo.
Isto não serve apenas para alguém que consideramos a nossa alma gémea, ou meia-laranja, isto serve para toda a gente, para os amigos, para os familiares, para um estranho.
No dia que descobrimos esta espécie de sexto sentido, e não estou a falar daquele Graal que atribuem às mulheres e que os homens entendem da mesma forma que a procura de um ponto G, estou a falar numa caracaterística sensorial que todos possuímos, e que apenas é diferente de indivíduo para indivduo no seu grau de acuidade.
Aumenta com a experiência, com a maturidade, e começa a descobrir-se no dia que decidimos questionar-nos a nós próprios, e paramos de questionar apenas os outros. Começa no dia que percebemos que há um mundo enorme para além do nosso, no dia que conseguimos ver para lá do embrulho.
A vida é feita de momentos, mas deve ser vista e entendida como um filme, todos esses fotogramas estão associados e seguem uma sequência, é preciso afastar-nos para os ver todos, senão passamos o tempo a saltar para o seguinte e morremos ignorantes.

01/03/11

Saldos

Já ouvi muitas teorias, li muitas citações e teoremas sobre o assunto, mas só recentemente me puseram a pensar seriamente sobre uma espécie de verdade quando analisamos a forma como nos relacionamos com outra pessoa, com o trabalho, com os amigos, com o lazer.
A isto pode chamar-se a regra das percentagens, é simples e explica praticamente tudo.
Quantas vezes vemos pessoas dedicadas de corpo e alma a alguma coisa? a alguém, a um sonho, a um trabalho? Essa atitude pode ser mensurada, diríamos: "está dedicada a isso, a 100%". Eu sei, parece uma daquelas frases que se ouvem nas conferências de imprensa ou nas entrevistas dos profissionais da bola. Mas a realidade é que toda a gente age dessa forma, tanto se foca por inteiro, como o faz parcialmente em praticamente tudo na sua vida.
No trabalho há poucos que se dediquem a 100%, nas amizades também, num mestrado, num desporto e até na família, mas há. Há quem vive estas coisas em plenitude e na generalidade vêm-se obrigadas a não o fazer em todas as outras. É Normal, o tempo, o corpo, a cabeça, não dão para tudo, daí o estabelecermos prioridades. O que fazemos é atribuir uma percentagem de dedicação a cada coisa. Umas são mais exigentes, outras menos.
Há evidentemente algumas realidades em que teremos que nos focar a 100%, pelo menos não consigo pensar de outra forma. Uma relação de amor e uma paternidade, não deixam espaço a descontos, aqui não há saldos nem promoções. Um Pai ou uma Mãe devem sê-lo a 100%, um esposo, uma esposa, um namorado ou uma namorada também.
Se no caso da relação entre pais e filhos, apenas os pais devem ter essa responsabilidade, já no segundo caso, é uma premissa sem a qual não é possível viver uma relação plena e verdadeira. E ambos têm esse peso sobre os ombros, ambos devem carregar a máxima carga possível que cada um pode levar, não se pode aliviar o peso, se o outro leva tudo o que pode.
Quando conhecerem alguém, pensem qual a percentagem que estão dispostos a dar para a relação, se for 100%, perguntem, se a resposta for 99% ou 1%, tanto faz, não vai funcionar, pode ser uma amizade colorida, uma paixoneta, um caso, não vai passar disso.
No Amor não há saldos.